Iniciámos a comemoração do dia de S. Martinho com uma visita guiada à Real Fábrica do Gelo, também referida como Fábrica da Neve da Serra de Montejunto. É um dos raros exemplares de seu género existentes na Europa e, à época, uma das mais avançadas em termos de tecnologia, classificada como Monumento Nacional português desde 1997. O complexo fabril divide-se em duas áreas distintas: uma destinada à produção de gelo, constituída por dois poços para captação da água, uma casa onde eram accionadas as noras e que servia de armazém, um tanque principal para recepção da água e 44 tanques rasos onde era realizada a congelação da mesma.
A outra área é dedicada ao armazenamento, conservação, preparação e embalamento do gelo pronto a ser carregado no dorso dos animais de transporte.
Edifício dos silos, onde eram armazenadas as placas de gelo para aqui transportadas, e onde permaneciam durante o Inverno. Existia um silo central de planta circular, com 9m de profundidade e 7m de diâmetro, no fundo do qual são visíveis os paralelipípedos que suportavam o estrado de madeira onde se colocava o gelo. Os outros dois silos menores, de planta rectangular, ficavam voltados a leste e oeste.
A Real Fábrica do Gelo fornecia a Corte e a baixa de Lisboa de gelo durante os séculos XVIII e XIX. Com a chegada do Verão, os blocos de gelo eram compactados, cortados e envolvidos em palha, feno e serapilheira, e desciam a Serra em direção à Corte, no dorso de animais. O restante trajeto era feito em carros de bois até às margens do Tejo e os últimos quilómetros eram feitos de barco – os “barcos de neve” – até Lisboa.
As densas paredes associadas à localização do edifício, sem exposição à luz solar e no meio de densa vegetação, criavam as condições de temperatura e humidadade ideais para a conservação do gelo.
Após o almoço na Quinta do Castro, visitámos o Convento de Santo António do Varatojo.
O Convento do Varatojo é um antigo mosteiro franciscano, fundado por D. Afonso V de Portugal em 1470, em cumprimento de uma promessa que havia feito a Santo António, pedindo auxílio para as campanhas do Norte de África. A arquitectura possui elementos de diversos estilos: gótico, manuelino, maneirista e barroco.
O claustro, de tipo gótico, apresenta dois andares com arcada ogival. Existe um belo pórtico manuelino, decorado com grandes remates e acesso à Casa do Capítulo e Igreja. O primeiro andar apresenta arcos quebrados sobre colunas e tecto pintado com divisa de D.Afonso V.
Destaca-se a capela-mor, com quadros de azulejo do séc. XVIII, que reproduzem factos da vida de Stº. António e as pinturas maneiristas em tábua do séc. XVI, representando a Anunciação do Anjo a Nossa Senhora, a Adoração dos Pastores, a Adoração dos Reis Magos e a Aparição de Cristo Ressuscitado a sua Mãe. Ao centro, uma tela de Bacarelli representando Sto. António perante a Virgem que Ihe entrega o Menino.
Sacristia com azulejos do séc. XVIII, com cenas alegóricas inspiradas nas gravuras de dois dos mais populares e difundidos livros de emblemas ascéticos do século XVII. São composições que aludem ao processo de aperfeiçoamento cristão ou ainda às provas a que o coração humano é submetido para alcançar o desapego dos assuntos materiais e a conversão a Deus.
A riqueza ímpar do retábulo de talha barroca, em branco e dourado, ladeado por quatro colunas salomónicas.
No átrio de entrada, destaca-se este pórtico gótico da igreja primitiva do convento, ladeado pelas armas reais e pela divisa de D. Afonso V. De realçar também o surpreendente teto da portaria com decoração mourisca. Nota ainda para a pequena janela gótica dos aposentos de D. Afonso V, na esquina do edifício, de onde o Rei distribuída esmolas aos pobres.