Visita ao Museu Rafael Bordalo Pinheiro

Dia 7 de Maio o Lyceum Clube organizou uma visita guiada ao Museu Rafael Bordalo Pinheiro.

O Museu Rafael Bordalo Pinheiro, criado pelo poeta republicano Cruz Magalhães em 1916, reúne a mais completa colecção bordaliana, entre peças de cerâmica, gravuras, desenhos e pinturas, fotografias e publicações. Aborda a vida e obra de Rafael Bordalo Pinheiro (1846-1905), uma das mais proeminentes figuras da cultura, política e arte lisboetas do séc. XIX, que  foi desenhador, aguarelista, ilustrador, decorador e jornalista, celebrizando-se como caricaturista político e  crítico da sociedade, com o seu “Zé Povinho”. Desenhou figurinos e cenários para o teatro, ajudando a compreender o que era o teatro, em Portugal, e qual o seu papel na Lisboa oitocentista.  Ganhou vários prémios: medalha de ouro na exposição Colombiana de Madrid em 1892 e 1895, em Antuérpia (1894), Paris (1900) e Estados Unidos em 1904. Bordalo foi contando a história de Portugal no final do séc.XIX.

Rafael Bordalo importa todo um programa decorativo à memória dos Descobrimentos, recorrendo à arquitectura gótica e a uma gramática ornamental manuelina e etnográfica. Uma cinta de arcarias, cabos, redes de pesca, peixes e azulejos miniatura enquadram os retratos do infante D. Henrique e do poeta Luís de Camões, assim como duas cenas com caravelas. O cordame forma as asas e, no gargalo, repetem-se arcos preenchidos com micro esculturas da Paixão de Cristo. Serve de tampa um telhado luso, com figuras aladas pendentes, encimado por esfera armilar e cruz de Cristo. A talha assenta numa base revestida por azulejo padrão e brasões da raínha D. Leonor e das  cinco quinas de Portugal, com quatro pés em forma de leão deitado. Foi comprada pelo rei D. Carlos e encontra-se no museu desde 1926.

O Perfumador Árabe – Assente numa base rectangular sustentada por quatro leões, o bojo tem a sua parte superior coberta por um rendilhado a imitar filigrana, e em dois nichos estão miniaturas de dois grupos escultóricos da “Via Sacra”.

20 anos depois – Este duplo autoretrato de 1903 mostra-nos o artista, face a face, em dois momentos da sua vida. Um jovem e altivo Rafael dá lume do seu cigarro para acender o cigarro de um velho e cordial Rafael, que lhe agradece levantando o chapéu. Os dois tempos estão identificados nas datas e cabeçalhos dos jornais que levam a sair das algibeiras: O “António Maria”, 1879 e “a Paródia”, 1903, o seu último jornal. Os gatos acompanham o tempo: no primeiro, um gato novo brincalhão, e no segundo um gato já mais gordo e cansado.

A Mão de Nabos – Esta litografia de “O António Maria”, 1883, é uma paródia à abertura da Praça-Câmara dos Pares, vendo-se Fontes Pereira de Melo, chefe do governo Regenerador, e Luciano de Castro, chefe do partido progressista, na oposição, a apresentar numa padiola os novos nabos-pares ao rei D. Luís. Ao seu lado, o condestável do reino, o altíssimo infante D. Augusto, do qual se apresenta, apenas, as pernas. Toda a assistência é composta por nabos-pares de pé.

A Horta Constitucional – Zé Povinho está sentado no chão de uma horta, com a cabeça apoiada numa albarda, ao lado de um poço de onde uma nora tira do bolso das calças do Zé, não água, mas moedas. Os alcatruzes da nora têm as caras dos ministros e os legumes da horta que as moedas vão regar são as figuras da casa real: o rei D. Luís é um repolho, os príncipes Luís Filipe e Carlos são duas flores, o infante D. Augusto é uma couve e o conselheiro Arrobas um pepino.

O Dia de Reis – Um Zé Povinho adormecido, com uma albarda a servir de almofada, tem sobre as suas costas todos os reis de Portugal, desde o Conde D. Henrique a D. Luís, que puxa já para cima do Zé o seu filho, o futuro rei D. Carlos. A legenda “levantar-se-há?” remete para o desejo de que o povo reaja e, ao levantar-se, faça cair os reis e, com eles, a monarquia. O desenho foi publicado no “O António Maria” a 6 de Janeiro de 1881, dia de Reis, fazendo uma propositada confusão entre o calendário litúrgico e o estado político do país.

Santo António de Lisboa – Publicado n’ “A Lanterna Mágica”, em 1875, é a mais antiga referência à personagem e dá-nos conta de um Zé Povinho surpreendido por uma figura infantil com cara de velho (António Serpa Pimentel, Ministro da Fazenda), que lhe pede uma esmola para a cera de Santo António, apontando para o altar. Esta metáfora da relação entre governo e povo completa-se com um Santo António de bigode (Fontes Pereira de Melo, Primeiro-ministro), com um menino Jesus ao colo (Rei D. Luís I), e ainda um senhor sentado com um chicote que observa a cena (João Bento Pereira, comandante da guarda municipal de Lisboa). As abelhas com cara de gente são os diversos ministros. O Zé Povinho reage com um sorriso, entregando  todas as moedas que tem  e coçando a cabeça, porque se sente desconfortável e não tem outra solução.