Viagem a Tomar

No dia 21 de Maio, o Clube realizou uma viagem a Tomar, cidade dos Templários, atravessada pelo rio Nabão, um dos mais bonitos da região ribatejana. A cidade foi classificada em 1983 pela Unesco como Património Mundial, pela singularidade do seu Castelo Templário e Convento de Cristo.

Iniciámos a visita na Igreja de Santa Maria do Olival, de estilo gótico, considerada Monumento Nacional desde 1910. A Igreja, dedicada a Santa Maria, remonta ao séc. XII, mandada edificar por D. Gualdim Pais, Mestre da Ordem do Templo, sendo panteão dos Templários desde o séc. XIII. Na capela-mor está uma imagem do séc. XVI de Nossa Senhora do Leite, em pedra policromada. Do lado esquerdo do altar encontra-se o túmulo renascentista de D. Diogo Pinheiro, primeiro bispo do Funchal no início do séc. XVI.

Seguimos para o Parque do Mouchão, onde observámos a Roda do Mouchão, construída em 1905, com o fim de aproveitar a força das águas das barragens do rio para irrigar os campos circundantes e transportar a água para os moínhos, prensas e ofícios que dela necessitavam. É um excelente exemplo de engenharia hidraúlica.

Depois de percorrermos a Corredoura, rua pedonal de Tomar, com alguns dos cafés e pastelarias mais antigas da cidade, chegámos à Praça da República, com a estátua de Gualdim Pais, fundador da cidade, a Igreja Matriz de São João Baptista e o antigo edifício dos Paços do Concelho.

A Igreja de São João Baptista, de estilo gótico tardio, foi concluída no início do séc. XVI. No exterior, destaca-se um pórtico de estilo manuelino e  uma torre sineira do lado esquerdo. No interior, além das capelas, possui uma série de painéis quinhentistas da autoria do pintor Gregório Lopes, um dos melhores artistas do renascimento português.

Seguiu-se um passeio pela ruas estreitas e floridas da Judiaria e a visita à Sinagoga, construída em meados do séc. XV, o que revela a importância da comunidade judaica aqui residente, a sua prosperidade e disponibilidade financeira. É o único templo hebraico proto-renascença existente no nosso país. Encerrada em 1496, aquando da expulsão dos judeus de Portugal decretada por D. Manuel I, foi convertida em prisão, posteriomente foi local de culto cristão – Ermida de S. Bartolomeu – e, no séc.XIX, foi palheiro, celeiro, armazém de mercearias e arrecadação. Em 1921, o Governo Português classificou-a como Monumento Nacional. Samuel Schwarz, um judeu polaco investigador da cultura hebraica, adquiriu-a em 1923 e doou-a, em 1939, ao Estado Português na condição de nela se instalar o Museu Luso-Hebraico de Abraão Zacuto.

Terminámos o passeio, da parte da manhã, com a visita ao interessante Museu dos Fósforos, doado ao município pelo coleccionador tomarense Aquiles da Mota Lima, com mais de 60 mil caixas de fósforos representando 127 países, distribuídas por 7 salas. Representa pinturas de pintores famosos, acontecimentos históricos, figuras políticas eminentes, literatura, música, artes, desporto, ciência, tecnologia e personalidades religiosas, objectos, animais, flores, paisagens, instrumentos musicais e até campanhas eleitorais e propaganda política.

Depois de um excelente e animado almoço no restaurante “O Picadeiro”, foi a vez da visita guiada, com uma guia excepcional, ao Convento de Cristo, classificado como Património Mundial em 1983. O Castelo de Tomar integra o grande conjunto arquitectónico e monumental do Convento de Cristo, cruzando elementos dos estilos românico, gótico, manuelino, renascentista, maneirista e barroco. Através de várias salas e claustros, fomos conhecendo o Alambor e a Torre de Menagem, a Alcáçova (depois de ser um reduto militar foi transformada na casa senhorial do Infante D. Henrique), o Convento Joanino, cujo acesso é realizado através do Claustro D. João III, e a segunda janela manuelina a sul, até chegarmos à Charola, sem dúvida o ponto alto da visita.

Construída ainda na época da Ordem dos Templários e concluída em 1190, a Charola, dedicada a Jesus Cristo e Maria, era o local privativo de oração dos cavaleiros e manteve-se como espaço religioso ao longo de todas as transformações do Convento de Cristo. No século XVI, D. Manuel I decidiu construir a Igreja Manuelina usando parte da Charola, abrindo um arco quebrado e transformando a Charola em capela-mor. É um dos raros templos em rotunda da Europa medieval. Arquitectonicamente, apresenta uma confluência dos estilos românico e gótico, integrando ainda decoração manuelina e um importante conjunto de pinturas e esculturas quinhentistas. A planta da Charola desenvolve-se em torno de um espaço central, octogonal, circundado por um deambulatório. O interior do tambor central é coberto por uma cúpula assente em ogivas cruzadas de grande verticalidade, e o deambulatório por abóbada de canhão suportada por arcos torais de volta perfeita. Um claro contraste entre a arquitectura fortemente militarizada do exterior – sóbrio e destituído de qualquer ornamento – e o elegante interior.

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A visita ao Convento terminou na imponente fachada ocidental da nave manuelina, restaurada recentemente e onde se encontra a belíssima Janela Manuelina ou Janela do Capítulo. Ladeada por dois gigantescos contrafortes, ou botaréus, esta janela é ornamentada por um exuberante universo figurativo onde estão presentes os temas de marinhagem – a madeira, o cordame, as bóias – as insígnias da Ordem – a cruz heráldica, esfera armilar, o brasão do reino – e figurações simbólicas, particulares à mística da Cavalaria Espiritual e à missão que a Ordem de Cristo tinha na empresa das Descobertas.