Viagem a Bragança, Zamora e Salamanca – Zamora

Após a visita à Cidadela, partimos para Zamora, uma formosa cidade muralhada espanhola, “capital do românico” com vinte e três igrejas românicas, que se ergue na margem do Rio Douro, e detentora dum riquíssimo património histórico, cultural e gastronómico.

Iniciámos o dia seguinte com a visita ao Museu Catedralício e à Catedral de El Salvador.

Museu Catedralício

O Museu Catedralício apresenta esculturas, pinturas, objetos litúrgicos, mobiliário, instrumentos musicais e uma amostra limitada de arqueologia, juntamente com uma excepcional colecção de tapeçarias com temas históricos, bíblicos e alegóricos dos séculos XV e XVI, executadas nas fábricas de Arras, Tournai e Bruxelas, famosas pelas suas grandes dimensões, qualidade artística e técnica.

Noli me tangere e Pentecostes – são dois painéis de um retábulo gótico hispano-flamengo de finais do século XV com cerca de trinta e cinco painéis pintados por Fernando Gallego.

Colecção de tapeçarias do Museu

Estas duas tapeçarias constituem a série da Parábola dos Trabalhadores da Vinha e baseia-se numa passagem do Evangelho de São Mateus. Terão sido feitas em Bruxelas por volta de 1500.

“O Chamado aos Trabalhadores” mostra aqueles escolhidos antes da chegada do Messias para trabalhar pela Redenção.

“O Pagamento do Denário” mostra como todos os trabalhadores, tanto os que começaram no início do dia como os que aderiram na última hora, recebem o mesmo salário diário, um denário, simbolizando que todos os cristãos serão recebidos no Paraíso.

Tapeçarias da série Aníbal

A série “História de Aníbal” consiste em cinco dos oito painéis que deve ter incluído, realizadas em Bruxelas por volta de 1570. As tapeçarias mostram grandes figuras e animais emoldurados por uma ampla bordadura de frutas e plantas e com um cartucho superior com uma inscrição em latim referente ao evento retratado.

O “Juramento de Aníbal” representa uma cena da história de Tito Lívio, mostrando o sacrifício ao Deus da Guerra e o juramento do guerreiro de lutar contra os romanos, tendo seu pai, Amílcar Barca, como testemunha.

A “Travessia dos Alpes” apresenta o acampamento cartaginês com Aníbal de pé mostrando o bastão de comando a três de seus capitães.

“Aníbal na Itália” mostra o general cartaginês a cavalo ao lado de vários guerreiros, levantando o braço em sinal de proteção, enquanto um velho lhe oferece as chaves da cidade.

“Os Despojos de Canas” conta a história do momento após a maior vitória de Aníbal, quando os cartagineses reúnem os pertences dos cadáveres.

“Magon, mensageiro de Aníbal, em Cartago” conta como o cartaginês enviou o seu irmão para relatar a Vitória em Canas ao Senado Cartaginês, representado por nove figuras que levantam as mãos em sinal de alegria, enquanto Magon mostra um baú com o saque.

Tapeçarias da série Tróia

A série completa “Guerra de Tróia”, de doze painéis, retratava o início da guerra até à destruição de Tróia. As tapeçarias terão sido feitas entre 1475 e 1485 numa oficina em Tournai. Os quatro painéis de Zamora foram doados à Catedral em 1608, juntamente com o de Tarquinio Prisco, por Dom Antonio Enríquez de Guzmán y Toledo, VI Conde de Alba e Aliste.

“Rapto de Helena” – A história desenrola-se da esquerda para a direita, com Príamo no seu palácio ouvindo dos seus homens como os aqueus se recusam a devolver a sua irmã Hesíone, a quem sequestraram; a expedição saindo de Tróia, chegando a Citéria e levando-a para fora; o encontro de Páris e Helena no templo de Afrodite e a chegada de ambas a Tróia, onde Helena recebe a bênção de Príamo.

Esta tapeçaria encontra-se na sala Capitular na Catedral devido às suas grandes dimensões (9,30m de largura por 4,50m de altura).

A “Tenda de Aquiles” de Zamora está incompleta, pois um quarto do lado esquerdo foi perdido num incêndio. Relata a entrevista entre Heitor e Aquiles no acampamento aqueu, a luta entre os aqueus e os troianos enquanto as mulheres assistem das muralhas, e a preparação de Heitor para o combate com Aquiles.

“Morte de Aquiles” – As cenas mais notáveis ​​incluem a morte de Troilo, a morte de Aquiles nas mãos de Páris e a morte de Páris.

“A Destruição de Troia” é o último da série e conta como os aqueus usaram a estratégia do cavalo idealizada por Ulisses, localizado no lado esquerdo, para entrar na cidade; a morte de Príamo e a captura de Políxena, Hécuba e Cassandra por Ájax, que se prepara para decapitá-las. Esta tapeçaria também se encontra na sala capitular.

“Tarquino Prisco” – tapeçaria flamenga , datada de 1475, um único painel de uma série que se teria centrado na História de Roma. Tem três inscrições na parte superior que relatam os eventos representados por inúmeras figuras separadas em três cenas: Lúcio Tarquínio avançando a cavalo em direção a Roma, a Coroação de Tarquínio e a Batalha de Tarquínio e os Sabinos.

Catedral

Situada no ponto mais alto da cidade, dominando o vale do Douro, a actual Catedral de Zamora, em estilo românico, começou a ser construída no final da década de 1140, sobre as ruínas da anterior, mandada edificar pelo Bispo de Zamora, Bernardo do Périgord, durante o reinado de Afonso VII. A Consagração da Catedral ocorreu em 1174, para se poder dar início aos ofícios, mas as obras continuaram.

A Porta do Bispo na fachada sul é a única das três portas românicas originais, tem uma certa influência árabe e é constituída por um arco alargado semicircular com quatro arquivoltas de arcos em ferradura muito fechados, ornamentados por lóbulos, que assentam em três pares de colunas, excepto o interior, que assenta nas ombreiras. No tímpano do arco da esquerda, S. Paulo e S. João, no da direita, com motivos vegetalistas e sob um dossel, a Virgem com o Menino, ladeada por dois anjos.

A Catedral de Zamora caracteriza-se pela sua espectacular cúpula de influência bizantina, adornada com escamas de pedra.

O retábulo-mor do século XVIII é uma obra neoclássica da autoria de Ventura Rodríguez e executado por Juan Bautista Tammi e Andrés Verda em mármore de Carrara, jaspe e bronze. A abside central do retábulo é dedicado à Transfiguração de Cristo, obra de Jerónimo Prebosti. No topo do retábulo estão nuvens brancas rodeadas por anjos e pelo Pai Celestial.

Ao lado da Capela-Mor existem duas outras capelas. Na abside do Evangelho, o retábulo dedicado à Virgem de Nossa Senhora da Majestade, também conhecida como Virgem Calvo, é uma talha gótica do século XIV, feita em arenito compacto. A policromia foi realizada no final do século XVI. Na abside da epístola, à direita, encontra-se o retábulo de Santo Cristo, de estilo renascentista-maneirista, executado em finais do século XVI.

O Coro, feito em madeira de nogueira por Juan de Bruxelles entre 1503 e 1507, é uma magnífica obra de estilo gótico tardio com 85 lugares, distribuídos em forma de U, com dois níveis. No assento principal, um belo pináculo. O órgão é do século XVII.

O coro posterior apresenta uma composição do gótico tardio, com duas portas góticas florais laterais e ao centro um altar com o painel que representa Cristo Salvador do Mundo em sua Glória, entre os bem-aventurados. É uma obra pictórica relevante, do primeiro terço do séc.XVI.

Capela de Santo Ildefonso ou do Cardeal – Fundada pelo cardeal zamorano Don Juan de Mella na primeira metade do século XV, é uma das mais bonitas. A grade é atribuída à oficina de Francisco Villalpando, datada do segundo quartel do século XVI (1670) e toda a capela está decorada com pinturas murais datadas de cerca de 1600 mostrando a vida de Santo Ildefonso no exterior e cenas bíblicas no interior.

O altar de prata e o tabernáculo são autoria de Manuel Garcia Crespo em 1730, e os degraus de Manuel Flores Herrera em 1763. O retábulo com a vida de Santo Ildefonso foi pintado por Fernando Gallego na década de 1470.

previous arrowprevious arrow
next arrownext arrow
 
Shadow
Sepulturas da Casa de Mella
Sepultura da família Romero

A Capela de São João Evangelista encontra-se ao fundo da nave da Epístola, com retábulo renascentista dedicado a São João Evangelista, representado pela águia e pelo livro dos Evangelhos. Santa Maria Madalena, deitada no campo com o botão do perfume e a cruz na mão esquerda, completa a parte inferior do retábulo. Recentemente também foi instalada na capela uma pia baptismal do século XV.

O Monumento Funerário do Dr. Don Juan de Grado (acima, à direita), falecido em 1507, cónego da catedral, data do início do século XVI e situa-se na capela à direita. Realizado em alabastro e arenito, é um dos melhores exemplos do gótico tardio em Espanha.

A capela de Santa Inês, construída em meados do século XVII, situa-se no corpo inferior da torre sineira, numa zona conhecida como “a masmorra” por ter sido utilizada como prisão do Cabido. Na capela encontra-se também uma escultura do Cristo deitado, de Luis Álvarez Duarte de 2001.

Capela de São Paulo, com portal plateresco e um retábulo barroco policromado da Conversão de São Paulo, esculpido por Cristóbal de Honorato o Velho, em 1632.

A Capela de São Miguel ou do Santíssimo, também chamado de “San Miguel de los Caballeros”. Possui um retábulo renascentista de finais do século XVI dedicado a Nossa Senhora da Piedade, esculpido por Juan de Montejo e policromado por Juan Ruiz de la Talaya, e os túmulos do século XVI de Balbás, cónegos da catedral.

Capela de São Bernardo, no lado da Epístola, presidida por uma bela talha de Arnao Palla, escultor flamengo, do venerado Cristo dos Insultos ou Cristo das Feridas, do século XVI. Na capela podemos ver ainda este retábulo de 1755 do Milagre da Lactação de São Bernardo.

Na parede da Nave da Epístola, o Arcossólio de Dom Lope Rodríguez de Olivares recentemente descoberto e restaurado. O tímpano mostra a Transfiguração, obra em pedra policromada do primeiro terço do século XIV.

Portal plateresco, com portas de nogueira, da mesma época do cadeiral do coro, decorada com figuras, imagens vegetais e animais, por onde se faz o acesso e saída da Catedral.

Centro histórico

Terminada a visita à Catedral, seguiu-se um passeio pelo centro histórico, passando pela igreja de São Pedro e Santo Ildefonso, Igreja de Santa Maria Madalena e Convento de Corpos Christi.

Igreja de São Pedro e Santo Ildefonso
Convento Corpus Christi – um convento de clausura das monjas Clarissas Descalças, do século XVI, frente à Igreja de Santa Maria Madalena

A Igreja de Santa Maria Madalena (fotos abaixo) é uma igreja românica do século XII. No portal sul, a decoração das arquivoltas possui motivos vegetalistas, que representam o paraíso celeste, assentes em quatro pares de colunas, cujos capitéis representam animais fantásticos.

No interior, há dois tabernáculos incrustados nos ângulos dianteiros da nave e cobertos com abóbada de berço. O mais destacado é o sepulcro românico de uma dama desconhecida, que se atribuí à Rainha D. Urraca de Portugal, primeira esposa de Fernando II, em que alguns anjos aparecem levando sua alma ao paraíso.

Seguiu-se o Teatro Ramos Carrión, inaugurado em 1916, e a Praça de Viriato que deve o seu nome à estátua que a preside ao centro, de finais de 1903, da autoria de Eduardo Barrón. Na Praça, além do edifício da Deputação Provincial do século XVII, que também visitámos, localiza-se o Palácio dos Condes de Alba e Aliste, exemplo da arquitectura renascentista espanhola de princípios do século XVI, e que é o actual Parador de Zamora.

Teatro Ramos Carrión
Edifício da Deputação Provincial na praça Viriato
Palácio dos condes de Alba e Aliste

Assim chegámos à Plaza Mayor, onde se situa a Igreja românica de S. João Baptista, a escultura El Merlú (que representa um par de frades, munidos de tambor e corneta, para a chamada dos confrades da Confraria de Jesus Nazareno), a antiga Câmara Municipal (datada do século XV) e a actual Câmara.

Igreja de S. João Baptista
Escultura El Merlú
Antiga Câmara Municipal
Actual Câmara Municipal

Regresso ao hotel, onde se realizou o almoço, após o qual partimos para Salamanca.

Índice